Lições de uma avó, por Fernando Di Primio*
Neste 29 de abril, minha avó, Antonina di Primio Maineri, estaria de aniversário. Nascida em 1892, viva estivesse, estaria fazendo 128 anos. Morreu em 1991, aos 99 anos. Morreu, modo de dizer, porque não há um só dia em que eu não a sinta viva, como fonte de inspiração. Explico: Dona Antonina foi realmente inesquecível. Professora catedrática de piano da Escola de Artes da UFRGS (da qual, aliás foi uma das fundadoras) ela, do alto dos seus 1,50 metro, e com o peso de seus 48 quilos, foi uma gigante, uma mulher à frente do seu tempo. Seria preciso mais do que uma crônica, talvez uma revista inteira ou mesmo (boa ideia!) um livro, para descrever suas proezas, nominar seus atributos ou listar as tantas lições que formaram o seu legado e que a fazem estar hoje, aqui. Além da música, onde foi concertista premiada e defensora incondicional (“tudo na vida é música, meu filho”, dizia), ela foi, por exemplo, uma intransigente precursora na defesa dos animais, como atestavam os tantos gatos e cachorros, convivendo em harmonia e bem cuidados, que habitavam o quintal de sua (nossa) casa, no bairro Floresta. Além disto, acreditem, já nos idos de 1960, lutava pela ecologia como ninguém e comandava em casa, com pulso e ciência, cotidianos processos de reciclagem do lixo e paciente compostagem (E ai de quem colocasse cacos de vidro no lixo!). E por aí, afora.
Mas o que ela deixou de maior, foram, sem dúvida, as suas inúmeras lições cotidianas de enfrentamento da vida; duas pelos menos, extremamente adequadas a momentos como esses que estamos vivendo, na quarentena provocada pela COVID-19.
A primeira delas, que ela repetia quase que diariamente, martelando meus ouvidos de adolescente, se resumia na frase: “Não dá importância para o que não tem importância!”. E agora, que estamos em casa, com o intuito precípuo de preservar a saúde, a gente vê o quanto tem dado importância, ao longo da vida, a coisas realmente sem importância… O carro, que tantas vezes serviu pra gente se exibir, tá lá na garagem, pegando pó. Todas aquelas roupas bonitonas repousam no fundo do armário e você anda pela casa com a bermuda surrada, a camiseta de estimação ou mesmo um velho pijama. Aquele restaurante chique, você percebe, já nem faz tanta falta assim. De uma hora pra outra, todos estamos aprendendo sim, quase na marra, a dar importância para o que realmente tem importância. Como o abraço de um neto, uma reunião de família, um bom livro ou os alegres encontros como os verdadeiros amigos, entre tantos outros deleites. Dona Antonina estava certa!
Ah, a outra frase que ela sempre repetia era “não se desespera com perigos imaginários”! Embora o Coronavirus não seja propriamente imaginário, o significado aqui é você não se deixar tomar pela angústia, ansiedade ou pânico. Fique em casa – que aliás é o melhor lugar do mundo, pense positivo e tenha fé: esse bicho não vai lhe pegar!
*Fernando di Primio é jornalista, editor e poeta com quatro livros publicados.