Depois de passar pelo Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), a exposição “Nemer – aquarelas recentes”, do mineiro José Alberto Nemer, chega no dia 18 de setembro (sábado) à Fundação Iberê.

A mostra é a continuação de uma série que vem sendo apresentada desde os anos 1990 e reúne 20 obras produzidas sobre papel francês. São quadrados, retângulos, grelhas, hachuras, círculos, trapézios, elipses, cruzes e arcos que povoam peças de diferentes formatos, começando nos 100 x 100 cm, até o inusual, pelas grandes dimensões, formato de 150 x 200 cm.

“Trabalho com a geometria, com o gestual, com as manchas, com as formas mais rigorosas. Às vezes eu começo construindo uma geometria, que na metade acaba se desconstruindo; é quando você reconhece que a aquarela é indomável, escorre até onde ela quer escorrer e o pigmento se concentra onde sequer imaginávamos. Todos os deslizes, todos os ‘erros’ são incorporados e fazem parte do processo não só da aquarela, mas da arte como um todo”, diz Nemer, pertencente à geração dos chamados Desenhistas Mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira, a partir da década de 1970.

Para o curador Agnaldo Farias, os trabalhos de Nemer propiciam um intermitente confronto entre uma orientação construtiva e um impulso orgânico. Diluídos na água, seus pigmentos correm pela folha, adivinhando suas minúsculas fissuras e revelando o acidentado da topografia do papel. A dimensão construtiva de suas obras se expressa, continua Farias, no recurso a figuras geométricas variadas, veloz e cuidadosamente executadas com lápis de grafite duro, com o apoio de régua, compasso.

Também chama a atenção em suas aquarelas o preto, uma cor pouco usada na técnica e terminantemente proibida na época em que estudou na Escola de Belas Artes: “Durante o curso, senti uma atração muito grande pela aquarela como técnica. Cada vez que eu começava pintar, os professores vinham e diziam: ‘a aquarela tem que ser mais transparente, e você está pesando muito. Isso aí está mais para guache do que para aquarela’. Outras vezes colocava um preto, e eles voltavam e falavam: ‘atenção, nunca se usa o preto na aquarela’. Foi aí que guardei a aquarela e me dediquei ao desenho. Os anos passaram, em um processo terapêutico, resolvi fazer algumas reflexões desenhadas e com aquarela. E, sintomaticamente, comecei pelo preto e nunca mais parei”, conta.

Foi por meio da psicanálise que a aquarela entrou na vida do artista. “Perguntei à analista se podia fazer um relatório usando aquarelas, e a técnica se adequou à minha introspecção e silêncio, ao meu temperamento. Domou a vontade de controle sobre tudo”, conta. A partir daí veio a primeira série, intitulada “Ilusões Cotidianas”, exposta, nos anos 1980, em São Paulo e na Bienal de Cuba.

Espaço em movimento – Em uma das itinerâncias de “Nemer – aquarelas recentes”, um visitante escreveu ao artista sobre o que encontrou na mostra e que, agora, os gaúchos verão na Fundação Iberê: “Aquarelas que fluem, flutuam e ocupam o espaço em movimento, como nuvens de cor preenchendo o olhar. Com sutil delicadeza, convidam para um momento de serenidade e paz”.

“A aquarela ensina o imponderável. Ao trabalhar numa superfície com água e pigmento, você tem um controle muito relativo, e essa impossibilidade de querer controlar tudo trouxe ensinamentos para a vida. Na Fundação Iberê, o visitante vai encontrar o silêncio, a possibilidade de silêncio interior, do que aprendi com a técnica e que vem muito ao encontro do meu processo de produção”, afirma Nemer.

Ateliê de Gravura – Para marcar sua passagem pela Fundação Iberê, José Alberto Nemer participará do projeto Artista Convidado, do Ateliê de Gravura. Ele já está em conversação com Eduardo Haesbaert, responsável pelo Ateliê, sobre sua nova criação.

 

 

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