Muita Água é a dança-denúncia de um sistema colapsado pelas águas de uma sociedade triste, afogada e multifocada, que amontoa os restos de suas vidas em frente às suas casas, no caso de ainda haver casa. Ao inovar na interface entre arte, ciência e sociedade, o espetáculo de Cibele Sastre Juliana Vicari e Fabiano Nunes aposta num processo de conscientização acerca do meio-ambiente e na elaboração simbólica da catástrofe. A pesquisa técnica-estética promovida pelos artistas, com base nos princípios do Sistema Laban-Bartenieff, emerge das experiências corporais dessa transformação radical e barrenta, sendo atravessada pela necessidade de transcriar afetos e dores em arte, se constituindo como uma obra autêntica e contundente. Muita Água estará dias 24 e 25 de outubro na IX Mostra de Artes Cênicas e Música do Teatro Glênio Peres. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados gratuitamente a partir de 20 de outubro.

“Quando as águas tomaram conta do estado inteiro em maio de 2024, nos percebemos atravessados pela catástrofe de uma maneira muito radical. Já não era mais possível falar sobre qualquer assunto que não estivesse mergulhado na enchente. A partir das nossas próprias experiências durante a catástrofe e impulsionadas por um texto-desabafo escrito por Fabiano naquela primeira semana de maio, imersos no completo caos, chuva de fake news, negacionismos e desgoverno, começamos criar essa performance”, afirma Juliana Vicari. Cota de inundação, chuva de pix, abrigos lotados, assalto no jet-ski, Caramelo no telhado, corredor humanitário, jacaré na cidade, cheiro podre de esgoto, SOS RS são alguns recortes de uma tragédia que passou a ser questão central da nossa existência naquele maio de 2024.

O barulho incessante dos helicópteros sobrevoando a cidade, a perplexidade estampada nos rostos. A arte veio como consequência: como processo de cura e de alerta. E assim Muita Água traz elementos cênicos que evocam símbolos desse momento, como botas de chuva, coletes fluorescentes, guarda-chuva, lama, cavalo Caramelo. Ao fundo do espaço cênico entulhos, cascalhos, fragmentos de lembranças familiares e restos de uma sociedade. “Todo esse processo de criação, em parceria com Fabiano e Cibele, me fez enxergar o problema da crise climática no planeta de um modo muito mais profundo, me convocando a sentir, pensar e agir no mundo a partir dessa questão. Então, esse espetáculo é pra mim a afirmação, quase um manifesto, que denuncia, sensibiliza e provoca o público a reelaborar tudo que viveu e buscar saídas coletivas possíveis” reflete Juliana.

Com narrações ácidas e aceleradas como trilha sonora dançada, o trabalho critica os efeitos da produção desenfreada de falsas informações durante a primeira quinzena de maio. Mergulhados no total caos, a população vivia a sensação de duvidar de tudo que estava sendo dito nas redes sociais a respeito da própria realidade, que se agravava a cada dia. Muita Água explora esses elementos na iluminação criada por Carol Zimmer, que valoriza o estado performático dos criadores-bailarinos, enfatizando o acúmulo de lixo, a confusão e o estado de urgência. “Nos corpos aparecem oposições diagonais, que evocam os extremos nos quais éramos e – sem ilusão – continuamos sendo lançados a cada nova notícia de um temporal na cidade. Sim, o barulho da chuva já não acalma. E é justamente sobre a falta de calma, a pressa parada, a urgência que às vezes acelera e às vezes paralisa o corpo que movemos, em que está ancorado nosso trabalho”, afirmam os criadores da montagem. Recentemente o espetáculo esteve em São Paulo, em apresentações no Complexo Cultural da Funarte.

MUITA ÁGUA
Dias 24 e 25 de outubro, às 19h
Teatro Glênio Peres – Av. Loureiro da Silva, 255 – Centro Histórico
Entrada franca
Os ingressos estarão disponíveis a partir do dia 20 de outubro, das 14h às 17h, no Laboratório da Sessão de Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre
Duração: 40 minutos
Classificação etária: 12 anos

Redes do espetáculo
https://www.instagram.com/muitaaguars

Fonte: Bebê Baumgarten Comunicação
Foto: Adriana Marchiori