Vem aí o VIº Festival de Teatro Popular: Jogos de Aprendizagem, promovido pela Tribo de Atuadores ÓI Nóis Aqui Traveiz

O Ói Nóis Aqui Traveiz estará realizando de 10 a 16 de outubro o VI Festival de Teatro Popular: Jogos de Aprendizagem. Esta edição trará a Porto Alegre o Teatro Grito da Bolívia com o espetáculo de teatro de rua “Viagem al Corazón de La Madre Tierra” e “Amana” espetáculo de dança-teatro de São Paulo. Este é o primeiro grande encontro que a Terreira da Tribo recebe desde a enchente de maio do ano passado, que causou enormes prejuízos e a mudança de endereço para a Av. Pátria 98. Os eixos principais do Festival são contribuir para a discussão sobre os princípios estéticos e éticos na formação do ator/atriz e constituir um olhar sobre as discussões de gênero, abordando a violência contra a mulher em suas variantes. Todos espetáculos tem entrada franca. As apresentações noturnas são na sede da Terreira e as de rua serão no Parque da Redenção.

Na sexta, dia 10, ‘Amana’ abre a apresentação. Sábado, dia 11, acontece a encenação de ‘Viagem al Corazón de La Madre Tierra’, na Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, às 16h. No domingo, às 12h, na Redenção a Tribo de Atuadores apresenta a performance ‘Onde? Ação N. 2’. Na segunda feira, dia 13 de outubro, será apresentado M.E.D.E.I.A , na terça, dia 14, estará Mulher Pássaro, na Redenção, além da palestra-performance DOPINHO: um lugar de memórias sensíveis, na Terreira. Na quarta-feira ‘Nossa Senhora das Nuvens’ na Terreita e na quinta-feira dia 16 de outubro, o festival se encerra com ‘Manifesto de Uma Mulher de Teatro’. As apresentações na Terreira da Tribo são sempre às 20h.

OS ESPETÁCULOS
Amana, espetáculo de dança-teatro de São Paulo, tem atuação de Ana Clara Poltronieri e direção de Tânia Farias. “Amana”, em tupi, significa “água que vem do céu”. Elemento feminino, a água conduz este rito cênico que evoca a história de duas irmãs separadas por uma tragédia. Presente e memória se misturam em cena para falar das lembranças amorosas, da luta e do luto relacionados a Magó, bailarina vítima de feminicídio cuja história tocou o coração do mundo. A narrativa é construída por meio do movimento, da palavra e do depoimento. É corpo pulsante e memorioso. Com sensibilidade e poesia, as criadoras Ana Clara Poltronieri e Tânia Farias fazem do espetáculo um gesto de basta o feminicídio e à violência que as mulheres vivem cotidianamente.

Espetáculo de teatro de rua, Viagem al Corazón de La Madre Tierra, criação do Teatro Grito da Bolívia, estreou em agosto de 2022, com direção de Carmencita Guillén Ortúzar. Na peça dois exploradores empreendem uma viagem para chegar ao coração da mãe terra, e em seu caminho se dão conta de que o dano à mãe terra é maior do que pensavam e que sua dor é cada vez mais profunda. Para alcançar seu objetivo deverão viver várias aventuras e se encontrar com os espíritos da mãe terra, que os ajudarão a compreender melhor o que sucedem em seu coração. No elenco estão Mariel Camacho Ovando, Bernardo Arancibia Flores, Michael Apaza Apaza e Rene Suntura Marmani. O Teatro Grito se destaca desde 1998 com criações para teatro de sala, teatro infantil e teatro de rua a partir de uma técnica e estética própria. Suas obras tem realizado apresentações nos principais festivais na Bolívia e em encontros na Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Brasil. Entre outras premiações recebeu o Prêmio Plurinacional “Eduardo Abaroa” (2016 E 2012).

A performance Onde? Ação nº2, da Tibo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, provoca de forma poética reflexões sobre o nosso passado recente e as feridas ainda abertas pela ditadura militar. A ação performática se soma ao movimento de milhares de brasileiros que exigem que o Governo Federal proceda a investigação sobre o paradeiro das vítimas desaparecidas durante o regime militar, identifique e entregue os restos mortais aos seus familiares e aplique efetivamente as punições aos responsáveis.

Nossa Sra das Nuvens – Julian Izquierdo

Em M.E.D.E.I.A, solo da atuadora Tânia Farias, estreado em 2022, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz retoma a personagem protagonista do seu espetáculo “Medeia Vozes”. A encenação apresenta uma versão antiga e pouco conhecida do mito, trazendo uma mulher que não cometeu nenhum dos crimes de que Eurípides a acusa. Por mais de dois mil anos, Medeia, uma das mais poderosas mulheres da mitologia grega, é acusada de várias atrocidades, tais como o fratricídio, o infanticídio e o envenenamento de Glauce, e é esta imagem que foi imposta à consciência ocidental que a Tribo vem negar. O mito é questionado e reelaborado de maneira original, para analisar o fundamento das ordens de poder e como estas se mantêm ou se destroem. Medeia é uma mulher que está na fronteira entre dois sistemas de valor, corporizados respectivamente pela sua terra natal e pela terra para a qual foge. Ambas as sociedades, Cólquida e Corinto, apresentam na sua história um sacrifício humano fundamental, que serviu para a estabilização do poder patriarcal. Medeia é uma mulher que enxerga seu tempo e sua sociedade como são. As forças que estão no poder manifestam-se contra ela, chegando mesmo à perseguição e banimento, ela é um bode expiatório numa sociedade de vítimas. M.E.D.E.I.A realizou temporada na Terreira da Tribo, em Porto Alegre, participou do Festival Internacional Tanto Mar em Portugal (2023) e do Festival Internacional Porto Alegre Em Cena (2022).

A palestra-performance DOPINHO: um lugar de memórias sensíveis surgiu da necessidade de falar
sobre esse lugar pouco conhecido na cidade de Porto Alegre, cuja memória segue em disputa. O
casarão na Rua Santo Antônio, nº 600, abrigou nada menos que o primeiro centro clandestino de
detenção e tortura do Cone Sul, no início da ditadura civil militar brasileira. Fora da estrutura oficial
do aparato militar, a alcunha DOPINHO consiste no diminutivo de DOPS (Departamento de Ordem
Política e Social). Só se tornou conhecido depois que o corpo do sargento Manoel Raymundo Soares, com as mãos atadas e nítidos sinais de tortura, foi encontrado por pescadores no Rio Jacuí em agosto de 1966. Uma investigação apontou o major Luiz Carlos Menna Barreto como responsável e revelou a existência do centro clandestino. A palestra-performance de Marta Haas surge em contraposição à tentativa de apagamento e banalização dessa memória. Tem como ponto de partida a memória corporal de ocupar lugares carregados de história da cidade de Porto Alegre, em ações cênicas realizadas pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Também são utilizadas como fontes a biografia de Manoel Raymundo Soares, o processo de tombamento do Dopinho, o acervo do Arquivo Nacional e outros trabalhos acadêmicos.

Nossa Senhora das Nuvens, de Arístides Vargas, é uma peça que entrelaça as vidas de Oscar e Bruna, dois exilados de um país imaginário. Em terra estrangeira, eles se reconectam através da troca de memórias sobre seu lar perdido, tecendo um retrato vívido de amor, perda e resistência. A obra explora a profundidade da memória e do exílio, questionando a essência da identidade e do pertencimento. À medida que suas histórias se desdobram, o país de Nossa Senhora das Nuvens ressurge, não apenas como um lugar geográfico, mas como um espaço de sonhos e esperanças compartilhadas. Esta peça é um testemunho poético da capacidade humana de encontrar significado e conexão, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Estão em cena Azucena Cruz, Barbara Scola, Bruna Ferreira, Célia Barela, Felipe Mendes, Jéssica Souza, Julian Izquierdo, Maria Inês Falcão, Nathalia Souza e William Ribeiro.

Em Mulher Pássaro, de Genifer Gerhardt, uma mulher lança voos. E se adentra em bairros, praças, escolas, portas de casas. Traz o encantamento visual como força e captura – da grandeza e da minúcia. Sem o uso de palavras, contam-se histórias visuais entre voos e sons. Uma performance/espetáculo/intervenção urbana com bonecos em miniatura e pequenas histórias – fazendo das ruas um ponto de encontro para versar sobre liberdades e encantamentos: da mulher; das miudezas; das grandezas. Artista solista de rua e palco, desde 2005 atua com teatro de bonecos em miniatura. Palhaça, escritora, atriz, realizadora audiovisual. Andante. E mãe. Já atuou em 25 Estados do Brasil, além de apresentações de seus espetáculos na Argentina, Espanha, França, Itália, Grécia, Bolívia e Portugal. De ruas a penitenciárias; de escolas a grandes festivais. Em encontros reais e profundos.

Manifesto de uma mulher de teatro parte da personagem Ofélia, de um dos textos mais contundentes da dramaturgia contemporânea, Hamlet Machine de Heiner Müller – marcante na trajetória da atriz Tânia Farias. A performance traz ao centro da arena a vociferação contra a engrenagem de violências às quais mulheres são continuamente submetidas. Vozes como a de Violeta Parra, Gioconda Belli e da própria atriz, que ousa contar detalhadamente sua história pessoal de violência sofrida e intercruzar com outra real, a de Magó, bailarina barbaramente violentada e assassinada em 2020, ao qual a atriz presta homenagem. Um ato político contra a violência de gênero, uma nova etapa de construção da reflexão dessa mulher de teatro num momento tão trágico, de autorização de todo tipo de barbárie contra mulheres, negros, lgbtqia+ e tudo o que o conservadorismo dessa elite atrasada considera uma ameaça ao seu projeto de morte, de não corpo e de não felicidade. O espetáculo participou do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto – SP (2022), Entrevero – Festival Internacional de Santa Maria – RS (2022), FILTE – Festival Internacional de Salvador – BA (2022), Festival Internacional Porto Alegre Em Cena (2024), e das Circulações do SESC-RS no interior do RS e em Serubim, em Pernambuco (2024).

Festival de Teatro Popular: Jogos de Aprendizagem
De 10 a 16 de outubro
Na Terreira da Tribo (A. Pátria, 98) e no Parque da Redenção
Entrada franca

Amana – sexta, dia 10h, às 20h – Terreira da Tribo
Viagem al Corazón de La Madre Tierra – sábado, dia 11, às 16h – Parque da Redenção
Onde? Ação N. 2 – domingo, dia 12, às 12h, no Parque da Redenção
M.E.D.E.I.A – segunda, dia 13, às 20h – Terreira da Tribo
DOPINHO: um lugar de memórias sensíveis – terça, dia 14, às 20h – Terreira da Tribo
Mulher Pássaro – terça, dia 14, às 14h – Parque da Redenção
Nossa Senhora das Nuvens – quinta, dia 15, às 20h – Terreira da Tribo
Manifesto de uma Mulher de Teatro – sexta, dia 16, às 10h – Terreira da Tribo

Fonte: Bebê Baumgarten Comunicação
Mulher Pássaro – Foto: Fábio Zambom

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